Trabalhando há mais de 30 anos junto ao mercado de Tecnologia da Informação, não posso deixar de comentar sobre a dependência mundial no fornecimento de semicondutores. Desde 2020 estamos observando sérios problemas na cadeia de suprimentos, impactando diferentes indústrias.
E como esses gargalos interferem na vida do cidadão comum? Em tudo! Essa escassez prejudicou a produção de smartphones, videogames, eletrodomésticos, computadores, carros etc – e mostrou ao mundo como esses pequenos chips são fundamentais à economia global. De certa forma, esse movimento nos conscientiza em relação às fraquezas e às vulnerabilidades das indústrias, e faz tocar sinal de alerta sobre como ficarão as próximas décadas.
Hiperconectividade
Em cenário de total protagonismo da Tecnologia e de megatendências, a qual se inclui o trabalho remoto, é preciso que as indústrias façam balanço sobre suas cadeias de suprimentos em 2020 e como vêm se preparando para uma década de crescentes demandas por mais tecnologia: carros elétricos, dispositivos móveis, residências automatizadas, Internet das Coisas, 5G, Indústria 4.0 e tudo mais hiperconectado.
De acordo com a consultoria Mckinsey, cerca de 70% do crescimento do mercado de semicondutores, será impulsionado por apenas três setores: automotivo, computação e armazenamento de dados e sem fio.
Automotivo
O segmento automotivo evolui com lançamentos de novos modelos elétricos, tecnologia multimídia embarcada, mobilidade elétrica, direção autônoma etc. Só este nicho irá gerar forte demanda junto ao mercado de semicondutores. Em 2021, essa indústria consumia 8% da demanda de semicondutores, mas poderá representar de 13% a 15% até o final da década.
De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfaeva) um carro moderno pode utilizar até 1.100 semicondutores. Para se ter uma ideia, um modelo SUV de médio porte, como o Volkswagen Taos, tem cerca de 300 chips, segundo a fabricante. Os semicondutores são utilizados no gerenciamento do motor e do câmbio, no controle de consumo e emissão de poluentes, também nos itens de segurança e conectividade.
Computação
No segmento computacional é crescente a demanda por processadores com aumento do número de celulares e, junto às empresas, vemos a tecnologia 5G impulsionando mais conectividade e mais infraestrutura de rede; assim como a migração para nuvem e recursos como IA estimulam a adoção de ambientes digitais modernos e aplicações robustas.
E o que esses últimos três anos nos ensinaram? Muita coisa! O senso de finitude tanto da vida humana como dos elementos da natureza foi um desses aprendizados. Nesse sentido, cabe planejar melhor daqui para frente o destino que queremos dar ao mundo, a força de trabalho e ao consumo dos elementos da natureza.
Mesmo em tempos geopolíticos instáveis e de guerra, além do descompasso entre oferta e demanda até o final de 2022 ou mesmo em 2023, as perspectivas para a indústria de semicondutores parecem satisfatórias, pois a demanda existe e é crescente. Porém, para que haja fornecimento estável para as próximas décadas, será necessário analisar profundamente as fábricas de fornecimento e, principalmente, investir em pesquisa e desenvolvimento de novos elementos, componentes, materiais etc.